quinta-feira, 4 de setembro de 2008

PRAZERES PELA METADE

PRAZERES PELA METADE

Leila Ferreira

Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa, contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido ? Uma só.
Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa.
Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.
O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano. A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade.
A gente sai pra jantar, mas come pouco.
Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.
Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').
Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta.
Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.
Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar. E por aí vai.
Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...
Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão..
Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado' ? deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos. Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito.
Recusar prazeres incompletos e meias porções.
Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim: 'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'..
Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado. Um dia a gente cria juízo. Um dia. Não tem que ser agora.
Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de chocolate, um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', uma caixa de trufas bem macias e o Clive Owen embrulhado pra presente. Não necessariamente nessa ordem.
Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago.

4 comentários:

Garotas de Vinte e Poucos disse...

B.
Concordo com tudo!! Sensação mto estranha esse de esperar tudo e receber pela metade... ficamos no vácuo do cavaco! Muito chato...

faço minhas suas palavras, só troco o Clive Owen pelo Chuck Bass (Gossip Girl).

Mega beijo
*Lala*

-- post novo no Garotas.

Anônimo disse...

Realmente... as vezes o prazer é visto como pecado "Comeu a fruta proibido e foi expulso do Jardim do Éden"...
Vamos combinar, Éden é o escambau, eu quero é comer a fruta!! hehehe

Existe toda uma questão psicanalítica sobre os prazeres pela metade (gozo parcial) hehe mas acho que não vem ao caso...

Eu voto para que as mulheres larguem mão dessa balela de "ser difícil" e dos conceitos "1ª vez pode isso... 2ª pode aquilo" tenha dó... sempre tem q poder o que 2 pessoas queiram... oras

e pra terminar meu comentário-livro hehehe eu namorei por muito tempo uma mulher 18 anos mais velha.... e não era nada ridículo ;) mas sim mto bom!!

Beijos
Andreas Ribeiro

sacodefilo disse...

NA verdade, estas coisas existem para que a gente tenha o prazer da transgressão... esse ninguém nos tira...

E como é bom!

Ana K. disse...

Realmente a pior coisa é fazer as coisas que você mais gosta e quer, e quando chega no final, o grande e esperado momento, lá está pela METADE ¬¬'.
Isso quando acaba não dando certo em pela metade!!

É de doooeer!! ;S